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sexta-feira, 29 de abril de 2011

Para entender o conflito entre Israel e os palestinos

Para aquele que se aventura a investigar o conflito no Oriente Médio, o desafio não é pequeno. O tema é atual e delicado, envolve muita dor, angústia e temores.

Narrativas nacionalistas e unilaterais deturpam os fatos e disputam a imaginação da opinião pública mundial. Por isso, mais do que narrar, é preciso permitir que cada qual construa sua própria visão, consciente e lúcida, dos acontecimentos.

Através das aulas aqui apresentadas, esperamos contribuir um pouco para isso, fornecendo alguns dados históricos e abrindo algumas sendas por onde o leitor ou expectador poderá navegar, com os recursos hoje à sua disposição.

Alguns esclarecimentos se fazem necessários. Primeiro, o conflito assume feições cada vez mais religiosas na medida em que crescem os fundamentalismos na região, tanto o judaico como o islâmico. Mas suas causas não são religiosas.

Segundo, o conflito se alastra há muito tempo, mas não é milenar. A civilização islâmica caracterizou-se pela tolerância em relação ao judaísmo e ao cristianismo, permitindo que houvesse minorias religiosas vivendo pacificamente no Islã.

Salvo raras exceções, muçulmanos, judeus e cristãos sempre conviveram nos diferentes Estados islâmicos, desde o advento do islamismo em 622 d.C. até o final do Império Otomano - islâmico - em 1918.

Terceiro, as designações de “árabe” e “islâmico” são distintas. Ser árabe refere-se a uma etnia e cultura. Árabe é a aquele que fala a língua árabe e vive em um dos 22 países árabes existentes. 90% dos árabes são islâmicos, mas na realidade podem professar qualquer religião ou mesmo ser ateus.

Antes da criação do Estado de Israel, em 1948, havia árabes judeus vivendo em todo o Oriente Médio e norte da África. Chegavam a constituir 5% da população da Palestina. Falavam a língua árabe, tinham uma cultura árabe mesclada às tradições judaicas próprias, e conviviam pacificamente com os árabes islâmicos e cristãos do Islã.

Ainda hoje, o Irã, que não é árabe, mas persa, possui a maior comunidade judaica do Oriente Médio. São judeus que vivem no Irã há dezenas de gerações e muito se orgulham de sua cultura persa milenar. A convivência milenar se evidencia no templo de Sara Khatoon, na província de Isfahan, compartilhado por judeus e muçulmanos.

Por fim, dois esclarecimentos; primeiro, o povo palestino é árabe. Mas cada país árabe é diferente do outro. Palestinos não são sírios, nem poderiam ser libaneses, egípcios ou mesmo jordanianos, quanto mais sauditas, tunisianos, ou marroquinos. Segundo, e não menos importante, ser judeu nem sempre equivale a ser israelense. Tradicionalmente falando, o judaísmo refere-se a uma religião, cultura e comunidade. Existem mais judeus vivendo fora do que dentro de Israel.

Arlene Clemesha
Professora é doutora em história árabe

Brasileiros estão ficando mais velhos

Os números do Censo 2010, divulgados pelo IBGE, mostram que já passamos dos 190 milhões. País tem mais idosos do que crianças de até quatro anos.

Rio de Janeiro, RJ

Hoje somos 190.755.799 brasileiros, 21 milhões a mais do que em 2000. Em 10 anos, crescemos a uma taxa média de 1,17% ao ano, a menor já registrada. As mulheres vivem em média 77 anos, os homens menos de 70.

O Censo também mostrou mudanças no ranking das cidades mais populosas: a ordem agora é São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Brasília, Fortaleza e Belo Horizonte.

Há quase quatro milhões de mulheres a mais que homens no país. Uma diferença que vem aumentando: em 2000 eram quase 97 homens para 100 mulheres. Agora são 96 homens. Praticamente um homem a menos.

Eles são maioria quando nascem. Segundo o Censo, nos últimos dez anos, para cada 205 nascimentos, 105 foram meninos e 100 meninas. Quando os brasileiros do sexo masculino atingem 25 anos, a proporção de homens e mulheres se inverte. Porque eles estão mais expostos à violência e morrem mais jovens.

Com o envelhecimento da população, essa diferença fica ainda mais evidente. Depois dos 80 anos, são menos de 63 homens para cada 100 mulheres.

A região norte é a que tem a maior proporção de homens em relação às mulheres. É no estado de Mato Grosso que há o maior número de homens. O Rio de Janeiro é o estado com a menor proporção.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Em 2050 faltará alimento para todos os 9 bilhões de habitantes da Terra

Uma mesa para nove bilhões



Washington, Estados Unidos, 18/4/2011 – Enquanto a carestia dos alimentos é prioridade na agenda das reuniões anuais de primavera do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional, alguns analistas já se perguntam como faremos em 2050 para dar de comer a uma população mundial de 8,9 bilhões. A maioria dessas pessoas vivendo em países em desenvolvimento.

“As pessoas pobres são as que mais sofrem e as que mais podem cair na pobreza devido à alta e à volatilidade dos preços dos alimentos”, disse, no dia 14, o presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick. Somente desde junho, 44 milhões de pessoas já foram empurradas para a pobreza devido à carestia dos alimentos, acrescentou. “Devemos dar prioridade aos alimentos e proteger os pobres e vulneráveis, que gastam a maior parte de seu dinheiro em alimentos”, enfatizou Zoellick.

Embora nesta ocasião tenha apontado a carestia dos alimentos como “a maior ameaça aos pobres em todo o mundo”, a escassez mundial de alimentos ainda não é um problema para a população mundial, que – se espera – deverá superar os sete bilhões de pessoas este ano. Entretanto, vários analistas afirmam que a demanda por alimentos, originada não só por haver mais bocas a alimentar, como também pelo aumento da renda nas economias emergentes, superarão a produção agrícola nas próximas décadas.

“A comida não escasseia no mundo de hoje”, disse Hafez Ghanem, diretor-geral adjunto da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO), encarregado do Departamento de Desenvolvimento Econômico e Social. Porém, “a demanda geral está crescendo cerca de 2%, enquanto os rendimentos crescem 1%”, acrescentou.

Com uma projeção para 2050, “quando a população mundial terá aumentando em cerca de dois bilhões de pessoas, o que implica que a demanda de alimentos será 70% maior do que a atual, isto se torna mais problemático e a necessidade de fazer algo agora se torna mais óbvia”, disse Zoellick em um debate organizado na semana passada pelo Carnegie Endowment for International Peace.

A urgência de “fazer algo” se intensifica, especialmente no mundo em desenvolvimento, onde entre 30% e 80% da renda é gasta com comida, o que evidencia a extrema vulnerabilidade aos preços altos. Ali vive a maior parte dos dois bilhões de subnutridos e um bilhão dos famintos de hoje. E também ali a insegurança alimentar é moeda corrente. Os analistas preveem que, até 2050, nessas áreas terão nascido entre dois bilhões e três bilhões de pessoas.

Ao mesmo tempo, se prevê que muitas economias emergentes, como China e Índia, contarão com um bilhão a mais de habitantes cada uma. Isto multiplicará a demanda de alimentos, segundo os especialistas, porque as famílias mais abastadas tendem a comer mais proteínas, e, inclusive, é necessário alimentar esses animais que depois acabarão em suas mesas.

Atualmente, os especialistas já estimam que cerca de 35% dos grãos do mundo são destinados a alimentar animais. Além disso, a continuada urbanização nas próximas décadas afastará a população do setor agrícola, o que tornará mais complexa a demanda por alimentos. Para satisfazê-la, os analistas consideram que a produção mundial de alimentos precisará duplicar nos próximos 40 anos.

No entanto, há muitos obstáculos no caminho até 2050. Entre eles, a crescente incidência, causada pela mudança climática, de fenômenos meteorológicos que destroem cultivos, a previsão de que haverá menos água para a agricultura devido à maior demanda para beber, a falta de diversidade agrícola em alguns lugares, maior suscetibilidade às pragas que devastam cultivos e uma quantidade limitada de terra arável no mundo, ao lado de uma maior consciência sobre os problemas que representa o desmatamento com fins agrícolas.

Segundo alguns especialistas, também é um fator limitante a existência de políticas governamentais que desestimulam os investimentos na agricultura para o consumo, como as que têm como objetivo a elaboração de biocombustíveis, o que faz com que os cultivos não sejam destinados à alimentação. Outros elementos mencionados são tarifas alfandegárias e subsídios que favorecem a produção das economias avançadas, desestimulando os países em desenvolvimento – que são os mais vulneráveis à insegurança alimentar e à carestia dos alimentos –, a priorizar a agricultura em seus territórios.

Embora não haja soluções rápidas, para impedir uma catástrofe, é preciso voltar a priorizar a agricultura para impulsionar a produção de alimentos, dizem os especialistas. “Investe-se o suficiente, mas os recursos não serão suficientes para alimentar todos no mundo em 2050”, disse Ghanem. Mas os números absolutos do fornecimento alimentar são apenas um aspecto da nutrição da população mundial. Uma preocupação mais grave do que a produção é o consumo: como e que tipo de alimentos serão distribuídos para os futuros nove bilhões de habitantes do mundo.

“Estamos falando do plano mundial. Há certas regiões que não poderão alimentar a si mesmas em 2050, regiões com populações enormes, como Ásia meridional, Oriente Médio e Norte da África”, disse Ghanem. No mesmo debate, Will Martin, pesquisador do Banco Mundial para temas de agricultura e desenvolvimento rural, disse: “Pensar no acesso das pessoas aos alimentos e na qualidade dos alimentos que consomem é mais fundamental do que pensar na quantidade total disponível”. Mesmo agora, tanto as populações com carência como com excesso de alimentos são particularmente preocupantes, com seus efeitos sobre a saúde, como raquitismo e inanição, por um lado, e diabetes e doenças cardíacas, por outro.

Isto somente enfatiza a importância dos investimentos em pesquisa e desenvolvimento, com a esperança de gerar uma “nova revolução verde”, com cultivos fortificados com nutrientes e multiplicação de rendimentos em meados deste século, insistem otimistas especialistas em tecnologia. De todo modo, tão ou mais imperativo é a necessidade de tonar mais igualitária a distribuição dos alimentos, com um comércio que favoreça os pobres e um fortalecimento das redes de segurança social, bem com repensar as práticas de assistência alimentar dos doadores e aumentar seus vínculos Sul-Sul.
Cerca de 35% dos grãos do mundo se destinam a alimentar o gado.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Brics exige reforma monetária global

Os Brics pressionaram nesta quinta-feira por um renovado sistema monetário global que dependa menos do dólar e por mais poder nas instituições financeiras internacionais.

Líderes de Brasil Rússia, Índia, China e África do Sul também pediram uma regulação mais forte dos derivativos de commodities para reduzir a volatilidade dos preços de alimentos e energia, que, segundo eles, impõem novos riscos à recuperação da economia mundial.

Reunidos em Hainan, no sul da China, eles disseram que a última crise financeira expôs as imperfeições da ordem monetária atual, que é baseada no dólar.

Em comunicado, os líderes defenderam que é necessário "um amplo sistema internacional de reserva cambial que dê estabilidade e certeza", uma crítica velada ao que os Brics veem como uma negligência de Washington às suas responsabilidades monetárias globais.

Os Brics temem que o amplo déficit comercial e orçamentário dos Estados Unidos enfraqueça o dólar, e também desejam para si os privilégios financeiros e políticos que acompanham a principal moeda de reserva mundial.

"A economia mundial está passando por mudanças profundas e complexas", disse o presidente chinês, Hu Jintao. "A era exige que os países dos Brics fortaleçam o diálogo e a cooperação."

Os bancos de desenvolvimento das cinco nações dos Brics também aprovaram o estabelecimento de linhas de crédito mútuas denominadas nas moedas locais, e não no dólar.

O diretor do Banco de Desenvolvimento da China (BDC), Chen Yuan, disse estar preparado para emprestar até 10 bilhões de iuans aos colegas dos Brics, e seu homólogo russo disse que busca tomar emprestado o equivalente em iuans de ao menos 500 milhões de dólares através do BDC.

"Nós achamos que isso vai, sem dúvida, ampliar as oportunidades para que as companhias russas diversifiquem seus empréstimos", disse Vladimir Dmitriev, presidente do banco de desenvolvimento russo VEB.

sábado, 12 de março de 2011

Ondas de tsunami gerado por terremoto alcançam cidade japonesa

11 de março de 2011

Água invade cidades nesta sexta-feira após o terremoto




O terremoto de 8,9 graus na escala Richter que sacudiu o nordeste do Japão nesta sexta-feira gerou um tsunami que alcançou áreas da cidade de Sendai, onde imagens da emissora de TV local mostram que a água arrastou carros e atingiu edifícios.

Por enquanto, não foi emitido nenhum boletim informando sobre vítimas fatais do tremor, um dos mais fortes dos últimos anos no Japão. A Agência Meteorológica do Japão tinha alertado sobre ondas de até seis metros na província de Miyagi, onde segundo a Polícia local, citada pela agência local Kyodo, há "vários feridos".

A emissora nacional NHK mostrou imagens do aeroporto de Sendai com as pistas totalmente inundadas, ao tempo que se observaram ondas de até 10 metros no porto da cidade.

O alerta de tsunami se estendeu a toda a costa oriental do Pacífico do Japão e às províncias de Miyagi e Iwate - outra das mais afetadas -, onde os habitantes que se encontram perto do litoral foram orientados a se dirigir para terrenos elevados.

O terremoto também causou vários incêndios, entre eles um de grandes proporções em uma refinaria na província de Chiba, contudo sem relatos sobre vítimas.

O forte terremoto, que ocorreu às 14h46 da hora local (2h46 de Brasília), foi seguido até o momento por outros seis tremores avaliados entre 6,3 e 7,1 graus, segundo o site do Instituto Geológico dos Estados Unidos (USGS).

"Anel de fogo do Pacífico"
O Japão, situado no "anel de fogo do Pacífico", sofre frequentes terremotos, que raramente causam vítimas devido às rígidas normas de construção vigentes no país.

Após o terremoto que ocorreu há dois dias, a Agência Meteorológica japonesa advertira que durante uma semana poderia haver réplicas, embora tenha sido estimado que a intensidade máxima seria de 4, pela escala japonesa.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Mubarak renuncia à Presidência do Egito e entrega o poder ao Exército


Na véspera, presidente transferiu poder ao vice, mas não contornou crise.
Povo, que pedia saída imediata havia 18 dias, comemora nas ruas do país.

O presidente do Egito, Hosni Mubarak, de 82 anos, renunciou ao cargo nesta sexta-feira (11), após um governo de quase 30 anos e que era contestado desde 25 de janeiro por grandes manifestações populares.

O anúncio da renúncia foi feito pelo recém-nomeado vice-presidente do Egito, Omar Suleiman, em um curto pronunciamento na TV estatal. Mubarak entregou o poder ao Exército, disse Suleiman, com ar grave.

"O presidente Mohammed Hosni Mubarak decidiu deixar o cargo de presidente da república e encarregou o Alto Conselho Militar de cuidar das questões de Estado", disse Suleiman.

Os crescentes protestos que derrubaram Mubarak deixaram mais de 300 mortos e 5.000 feridos. Eles começaram em 25 de janeiro, inspirados pela queda do presidente da Tunísia, e tiveram impulso na internet, que comemorou a queda do ditador.

Espera-se que a queda do regime Mubarak abale outros governos autoritários do mundo árabe.

Um porta-voz disse que o Conselho Militar vai anunciar medidas para uma "fase de transição" no país, segundo comunicado lido na TV estatal. O conselho também disse que "não há alternativa à legitimidade do povo".

O ministro da Defesa, Mohamed Hussein Tantawi, deve ser o chefe do conselho, segundo fontes militares. Ele passou em frente ao palácio presidencial, no Cairo, no início da noite desta sexta, saudando a multidão.

O conselho poderia derrubar o gabinete de ministros de Mubarak, fechar as duas casas do Parlamento e governar diretamente com a Corte Constitucional, segundo a TV Al Arabiya.

O país tem eleições presidenciais marcadas para setembro.

A notícia da renúncia, exigida pelos manifestantes, foi imediatamente celebrada com festa nas ruas do Cairo e das outras grandes cidades do Egito.

Por volta das 18h locais (14h de Brasília), na lotada Praça Tahrir, que foi o centro nervoso dos protestos, manifestantes cantavam: 'o povo derrubou o governo'.

Manifestantes se abraçavam, e algumas pessoas desmaiaram de emoção. O fato de o Exército participar da transição foi bem recebido pela população nas ruas.

Houve comemorações em outros países árabes, como a Tunísia (assista ao lado), e egípcios celebraram a notícia até em São Paulo.

O oposicionista Muhamed ElBaradei, uma das principais figuras dos protestos, disse que o Egito "esperou por décadas" por este dia. Ele afirmou esperar que povo e Exército governem juntos durante o período de transição.

A Irmandade Muçulmana, principal grupo opositor, parabenizou o povo e o Exército do Egito pela notícia. Eles celebraram o fato de que o Exército "cumpriu suas promessas".

Egípcio, com bandeira do país, comemora o anúncio nesta sexta-feira (11) O blogueiro Wael Ghonim, um cibermilitante que passou 12 dias preso e virou ícone do movimento, escreveu no seu Twitter: "Parabéns ao Egito, o criminoso deixou o palácio".

Manifestantes que faziam vigília na Praça Tahrir disseram que, após a festa, voltariam para casa.

"Nós podemos finalmente ir para casa!", disse chorando Mohammed Ibhahim, de 38 anos, um dos organizadores dos protestos. "Nós estamos aqui há 18 dias esperando ele ir embora e conseguimos."

EUA e Europa
O presidente dos EUA, Barack Obama, disse que a saída de Mubarak é só o começo, e não o fim do processo de transição no país.

A chefe da diplomacia da União Europeia, Catherine Ashton, disse que respeitava a decisão de Mubarak e pediu diálogo para a formação de um governo de "base ampla" no país.

Fora do Cairo
Mubarak havia partido pouco antes para o balneário de Sharm el Sheij, no Mar Vermelho, a 400 km do Cairo, informou Mohammed Abdellah, porta-voz de seu partido, o Nacional Democrático.

Ele, que tem uma residência no balneário, saiu em meio a mais um dia de grandes protestos de rua.

O governo da Suíça anunciou que vai congelar os possíveis bens de Mubarak no país, segundo a chancelaria.

Exército
Mais cedo nesta sexta-feira, o Exército havia soltado nota prometendo levantar o estado de emergência sob o qual o país vive desde 1981, "assim que as circunstâncias atuais terminassem", em uma aparente demonstração de apoio à transição proposta por Mubarak.

Mas esse comunicado não bastou para que os manifestantes desistissem de marchar.

Em Al Arish, no Sinai, confronto entre manifestantes e a polícia deixou um morto e 20 feridos.

Última cartada
Na véspera, Mubarak tentou uma última cartada para continuar no poder até a transição.

Ele frustrou os manifestantes que esperavam sua renúncia imediata e confirmou, em discurso na TV, que pretende continuar no governo até setembro, à frente da transição de poder. Ele também disse que iria transferir poderes ao seu vice.

Sameh Shoukr, embaixador do Egito nos EUA, explicou que Mubarak transferiu todos os poderes da presidência para seu vice, mas permanece do chefe de Estado "de jure" (de direito). O embaixador disse que esta versão lhe foi contada pelo próprio Suleiman.

A decisão de Mubarak de ficar durante a transição irritou ainda mais a população local. Milhares de pessoas passaram a noite na praça Tahrir.

Em um discurso de tom patriótico, Mubarak afirmou que a transição no Egito em crise vai ocorrer "dia após dia" até as eleições presidenciais marcadas para setembro. Ele prometeu proteger a Constituição durante todo o processo.

Mubarak disse que propôs emendas aos artigos 76, 77, 88, 93 e 189, e cancelou o 179, que dava poderes extras ao governo em caso de combate ao terrorismo.

O presidente afirmou que iria transferir poderes a Suleiman, segundo a Constituição, mas não esclareceu quando, até que ponto ou de que maneira isso ocorreria.

Em discurso posterior ao de Mubarak, Suleiman, -que já vinha liderando as negociações com a oposição- se comprometeu a tentar fazer "uma transição pacífica de poder" e pediu que os manifestantes acampados no Cairo voltem para casa.

'Saída honrosa'
O deputado trabalhista israelense Benjamin Ben Eliezer afirmou nesta sexta que Mubarak comentou com ele, em uma conversa por telefone na noite de quinta-feira, pouco antes de seu discurso à nação, que estava buscando uma "saída honrosa".

"Ele sabe que acabou, que é o fim do caminho. Só me disse uma coisa pouco antes de seu discurso, que procurava uma saída", afirmou Ben Eliezer à rádio militar.

Ben Eliezer, que até recentemente foi ministro do Comércio e da Indústria, é considerado o dirigente israelense mais próximo de Mubarak, a quem visitou em várias ocasiões.

Em 1979, o Egito se tornou o primeiro país árabe a assinar um tratado de paz com Israel, e o país tem apoiado os EUA em seus esforços para tentar encerrar o conflito entre israelenses e palestinos. Nesta sexta, a Casa Branca pediu ao novo governo egípcio que respeite a paz com Israel.

Na semana passada, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, alertou para o risco de uma revolução islâmica no Egito, inspirada no modelo iraniano, se o grupo opositor Irmandade Muçulmana eventualmente assumisse o poder.